Executiva do Bluesky aposta nas diferenças para manter usuários engajados na rede "irmã"
Rede social de ex-Twitter estourou no Brasil na última semana (Imagem: Koshiro K/Shutterstock)
A suspensão do X/Twitter no Brasil, no final de agosto, pegou usuários da rede social de surpresa. O Bluesky, então, se tornou uma opção para aqueles que buscavam uma plataforma parecida, chegando a receber 2 milhões de usuários e ficando entre os aplicativos mais baixados no país em poucos dias.
Mas e quando o X/Twitter voltar (algo que pode acontecer em breve)? A diretora de Operações do Bluesky, Rose Wang, não acredita que esse será o fim da rede social “irmã” e aposta em um ambiente mais acolhedor e menos tóxico para manter usuários por lá.
Bluesky não está deixando brasileiros na mão: demandas serão atendidas, em tempo (Imagem: Getty Images)
Ao contrário do X/Twitter, Bluesky tem representação legal no Brasil
O bloqueio do X/Twitter no Brasil motivou usuários a migrar para o Bluesky. Há poucos dias, já eram 10 milhões de novas contas na rede social, número que a empresa pretendia atingir apenas no final do ano. Segundo Wang, brasileiros são um terço do total.
Ao contrário do X, suspenso pela falta de representante legal no país, o Bluesky apontou na semana passada uma representação nacional. O anúncio oficial da firma que irá responder pela companhia deve acontecer nos próximos dias. Vale lembrar que a plataforma de Elon Musk também nomeou um representante no país na última sexta-feira (20), a advogada Rachel de Oliveira Villa Nova Conceição.
X/Twitter pode até voltar, mas Bluesky não está preocupado (Imagem: rafapress/Shutterstock)
E depois que o X/Twitter voltar? Bluesky não ficará vazio
O X/Twitter pretende pedir fim do bloqueio à rede social enquanto prepara documentos para confirmar representante legal no país. E como fica o Bluesky?
Para Rose Wang, ao O Globo, o retorno do X não vai esvaziar a presença brasileira na plataforma vizinha. A executiva aposta que o diferencial da rede social azul está no ambiente mais saudável e menos tóxico, que continuará a ser um atrativo para alguns usuários.
Um dos objetivos da plataforma, inclusive, é dar mais controle do conteúdo ao próprio usuário, algo que Wang espera tornar a internet mais comunitária e manter brasileiros.
Acho que há uma natureza social dos brasileiros que combina muito bem com o Bluesky. As pessoas vêm ao Bluesky para amizade, para conexão. Em vez de buscar polêmicas, procuram entretenimento. E esse é um tipo completamente diferente de plataforma que estamos tentando construir, muito mais voltada para a comunidade.
Rose Wang, diretora de Operações do Bluesky
Outro fator que pode ajudar nisso é a arquitetura aberta, que permite que desenvolvedores criem novos recursos e que usuários personalizem o que querem ver. Ao invés de um único algoritmo que recomenda o que está em alta, o Bluesky aposta em feeds temáticos de acordo com o interesse das pessoas, propiciando a criação de nichos.
Wang também acredita que o ambiente das redes sociais mudou e que usuários e marcas estão mais distribuídos em diversas plataformas – incluindo no Bluesky, algo que não deve mudar nem com o retorno do X/Twitter.
Marcas e criadores estão encontrando diferentes públicos em diferentes lugares. Isso está acontecendo em todo o mundo, com as pessoas interagindo de forma múltipla nas diferentes plataformas. Não é mais um mundo de única rede, e esperamos que esse comportamento continue, mesmo que o X seja “desbanido”. Ainda veremos as principais marcas e usuários postando tanto no Bluesky quanto no X e no Threads.
Rose Wang, diretora de Operações do Bluesky
Rose Wang, diretora de Operações do Bluesky, agradeceu brasileiros no perfil na plataforma (Imagem: Bluesky/Reprodução)
E a moderação?
Um dos fatores que levou ao banimento do X/Twitter no Brasil foi a moderação de conteúdo, permitindo, por exemplo, que contas com mensagens consideradas antidemocráticas continuassem no ar.
O Bluesky quer ser diferente.
Aaron Rodericks, líder da área de segurança da rede social e ex-funcionário do X, aposta em um modelo híbrido, que combina rotulação de conteúdo por parte dos usuários e moderação da própria plataforma. Para ele, isso tem se mostrado eficiente e a chegada de mais brasileiros motivou a empresa a buscar moderadores no país.
Rodericks também admite que, como o Bluesky ainda está em uma escala menor em comparação com outras redes, é possível fazer testes de abordagens de moderação.
Bluesky promete vídeos mais longos e monetização no futuro (Imagem: Primakov/Shutterstock)
Bluesky tem mudanças a fazer – e está trabalhando nisso
Os brasileiros que sentiram falta do X/Twitter e migraram para o Bluesky sentiram falta de alguns recursos famosos, como o trending topics e vídeos. A empresa correu para atender às demandas:
- GIFs e vídeos foram incluídos aos poucos no Bluesky, buscando se adaptar ao gosto do público brasileiro;
- A próxima função planejada é o lançamento dos trending topics (aba que mostra os assuntos mais comentados do momento);
- Até o final do ano, a empresa também quer lançar um modelo de assinatura com recursos premium, que permita a publicação de vídeos mais longos – e deve ajudar criadores de conteúdo a se estabelecer por lá;
- Anúncios serão outra novidade. A companhia, no entanto, quer evitar o modelo tradicional e aderir a uma publicidade direcionada, baseada nas interações de cada usuário;
- Monetização também está nos planos, algo que pode ajudar empresas que usam as redes sociais como métrica.
Rose Wang deu um passo atrás e controlou as expectativas dos usuários brasileiros do Bluesky. Ela revelou que, às vezes, não é possível avançar tão rápido porque “estamos garantindo que nosso serviço não caia com a chegada de milhões de usuários”.
*Olhar Digital